Do ser humano é inexorável e dela não escapa ninguém. Mas poucos muito poucos se preparam para enfrentá-la sem que haja a respectiva decadência intelectual e mental. A não aceitação da decadência física se deve muito à falta de espiritualidade, pois a maioria das pessoas não se dá conta de que envelhece com o passar dos dias. O que é melhor: Morrer jovem ou chegar à velhice?
Para certos jovens ser velho é ser inútil e desprezível, mas esquecem os que estão entrando para a vida que um dia estarão no lugar dos que desrespeitam hoje e no momento que receberem as mesmas ironias e os mesmos desrespeitos compreenderão quão fútil e vazia foi a sua caminhada.
Os despreparados é que não sabem conviver com seus cabelos brancos; os que cultuaram a beleza e o vigor físico é que sofrem desconsoladamente com o passar dos dias; os vaidosos e materialistas que nunca representaram nada exceto um punhado de dinheiro e bens materiais é que se apavoram com a aproximação da morte; os que simplesmente passaram e não viveram é que sofrem ao enfrentar a realidade dura e a constatação de que já não têm tempo para viver.
Tudo tem sua hora e as coisas devem ser feitas nos momentos certos. Fazer as coisas da juventude na velhice tentando recuperar o tempo perdido transforma o homem em um ser ridículo porque ele nunca pensou e muito menos observou o movimento dos ponteiros do relógio.
Por falar em relógio lembro do parecer sobre o pedido de recursos à Prefeitura de Lajeado para reparos no relógio instalado na torre da Igreja Matriz daquela cidade. Este o resumo do parecer do senhor Alberto Pasqualini sobre a aprovação do pedido: “Creio que a Prefeitura justifica bem seu ponto de vista. O relógio, embora instalado na torre de uma igreja, não é objeto do culto. A sua função mecânica é pura e simplesmente advertir que o tempo passa tanto aos fiéis como aos infiéis, tanto aos crentes como aos agnósticos, tanto aos católicos como aos luteranos. A hora é a mesma para todos e o tempo, que é a marcha da vida para a morte e do nada para a vida, na sua fatalidade igualitária não tem preferência nem faz exceções. Nada há de tão imparcial e de tão insensível como os ponteiros de um relógio. São eles absolutamente frios, neutros, universais. Tanto marcam a duração da esperança como da desilusão, do prazer como do sofrimento, da glória como da ignomínia. Dão a hora do trabalho e a hora do repouso, a hora da prece e a hora da diversão, a hora da cegonha e a hora do último adeus, a hora em que os corações enamorados batem sobressaltados e a hora em que se arrependem de haver batido assim... O relógio do alto da torre, assiste impassível o desfilar das dores e das alegrias humanas, dos sonhos e dos desenganos, da felicidade e da desgraça, do amor e do ódio, dos triunfos e das derrotas, da ambição e do desprendimento, da soberba e da igualdade, do heroísmo e da covardia, da justiça e da iniqüidade, da sabedoria e da ignorância, talvez filosofe com a Escritura: É preferível a sorte dos mortos ao destino dos vivo; mais felizes, porém, são aqueles que ainda não nasceram porque desconhecem os males que acontecem debaixo do sol...” O parecer termina pela aprovação do projeto. Aprendei plebeus, pois ainda é tempo para muitas reconsiderações.
E debaixo do mesmo sol existem homens e homens. Uns estúpidos para pensar que ter sucesso é acumular fortuna material a qualquer preço; enquanto outros sábios para deixar um rastro de exemplos que lhes garantirão a eternidade. Uns vivem e registram sua passagem; outros passam sem deixar o menor vestígio da existência. Lembrem-se, pois dos ponteiros insensíveis e imparciais do relógio mostrando dia após dia que a vida é uma viagem sem retorno.
Não podemos permitir que a decadência física seja acompanhada da decadência intelectual e mental para, apesar de velhos, continuarmos a viver. Saber ficar velho é, pois uma arte.
Até enquanto a censura não me cortar, novamente.
sábado, 14 de maio de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário