sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O DISCURSO DE DIODORO CIRINO (Cont)


O tribuno bateu com a mão recoberta de malha sobre a estante e foi como se o ribombar de um trovão no resplandecente silêncio marmóreo.
Por avidez, aquele jovem senador gritou-vos, as turbas desta cidade têm prestigiado péssimos césares, que anelavam apenas poder, porque aqueles césares lhes prometeram o saque dos tesouros públicos. Senadores venais apoiaram esses césares para retirar disso proveito e poder. Os césares mentirosos falaram às multidões e disseram-lhe que nossa pátria não se podia defender dos bárbaros sem aliados e esses aliados deviam ser eternamente comprados, adulados e afagados. E os césares traidores conspiraram contra a sua nação enlouquecidos pela avidez de serem adorados como os deuses, por todo o mundo e serem aclamados por milhões de ladrões, mendigos, lutadores, libertinos e pusilânimes que jamais sentiram o patriotismo em seus corações de abutres!
Traição – várias vozes exclamaram, aterrorizadas e rostos voltaram-se uns para os outros, em fúria e alarma.
Diodoro manteve-se atrás da estante e pôs os polegares no cinto, olhando para eles com ódio e escárnio.
Estas são as minhas palavras, embora eu já as tenha dito diante de vós. São as palavras do senador que entregastes à morte neste mesmo local.
Abriu a túnica no peito e a armadura tombou ao solo, retumbante:
Olhai para as minhas cicatrizes, para a evidência dos meus ferimentos! Vós, senadores, vós canalhas, vós, mentirosos perfumados, olhai para os meus ferimentos! Vós, velhacos e ladinos, que vos deitais sobre sedas ao som das liras e sob o murmúrio das mulheres prostitutas e dissolutas e das concubinas compradas... olhai para os meus ferimentos! Estão eles em vossa carne lisa? Há ferimentos semelhantes em vossos corações que traem Roma a cada movimento respiratório e levam-na para o inferno em cada lei?
Virou lentamente seu peito nu e coberto de cicatrizes para que todos o pudessem ver. Era uma visão terrível e alguns dos senadores mais velhos cobriam os olhos com as mãos.
A voz de Diodoro ergueu-se e estava mais profunda em gravidade e força:
Tais feridas estavam na carne do senador que enviastes à morte naquele dia. Não com uma espada honesta, não com um estoque embotado, mas com mentiras e condenações, com ostracismo e com silêncio. Porque ele ousara amar sua pátria e ousara tentar salvá-la de traidores, assassinos, ambiciosos e mentirosos! Seu coração partiu-se e não houve conforto para ele.
“Poderíeis vós confortá-lo, vós que traístes vossa pátria e sustentastes vossos traiçoeiros césares? Ousaríeis confortá-lo, vós, cujas línguas envenenaram seu próprio sangue e o levaram à morte? A ele, o único que amava seu país e que inocentemente acreditava que também vós amasseis vosso país?”
Diodoro tornou a bater na estante e agora pareceu a alguns senadores que o próprio Marte produzira aquele som em seus ouvidos.
Deixai-me comover vossos corações! – exclamou ele. – ainda não é tarde demais! O curso do império conduz apenas à morte. Senadores, olhai para mim! Ouvi com vossos corações e não com suas mentes malévolas. Voltai à liberdade, à frugalidade, à moralidade, à paz, a Roma. Não penseis mais nos que vos elegeram, naqueles cujos ventres exigem para se satisfazerem, o próprio sangue de Roma, a própria carne de Roma, o ouro duramente ganho de Roma. Não vos inclinais mais diante de falsos césares que, desafiando nossa própria Constituição, lançam mandatos contra o bem-estar de Roma e colocam-se acima da lei que nossos pais formularam e pela qual empenharam suas vidas, suas fortunas e sua sagrada honra.
“Roma foi concebida com fé, justiça, na veneração de Deus e em nome da varonilidade do homem. Devolvei nosso país ao governo da lei e derrubai o governo dos homens. Restaurai os tesouros. Retirai nossas legiões dos países estrangeiros que nos odeiam e que nos destruirão num relance, assim que isso sirva aos seus interesses. Repeli as taxas que esmagam os que trabalham dura e industriosamente. Dizei às multidões que devem trabalhar ou morrer à fome.”
As civilizações se sucedem, mas muitos fazem crer que a corrupção iniciou nos mandatos do Luiz Inácio da Silva. O discurso transcrito acima, se verdadeiro, afirma o contrário. De minha parte acredito que a corrupção é uma distorção e um desrespeito às leis vigentes em tudo aquilo que sofre a ação do ser humano, principalmente quando no exercício do poder.
Até enquanto a censura não me cortar, novamente.


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