Costumo dizer que a música afasta os medos e enternece a alma. Escrevo estas linhas ouvindo músicas inesquecíveis. De repente sinto que me invade uma sensação de nostalgia. Sinto que falta algo, alguma coisa, uma mulher. A música me traz recordações de momentos vividos, uns bons outros nem tanto, de afetos, de amores, de quem partiu e não voltará jamais e é a música que faz desfilar na minha mente as tantas mulheres que povoaram minha existência. Foram muitas, mas não restou uma para alegrar os meus dias. Sou capaz de lembrar cada minuto da vida. Lembro de quem me faz o bem, porém não esqueço de quem me faz o mal. Será que os outros também lembram? Acredito que não, se lembrassem o mundo seria mais harmonioso, mais justo e muito mais belo.
Ouvindo música minha alma se desprende do corpo e corre célere procurando o que não perdeu e tentando encontrar o que não existe. E nesse desprendimento corporal ela vaga por lugares estranhos, lugares onde há luz, lugares onde reinam a sabedoria e a espiritualidade predicados que diferenciam os humanos uns dos outros. Nesses lugares não existem falsidades, indiferenças e mal querer.
A música, muitas vezes, é a companheira que preenche os vazios da vida trazendo para perto quem está longe nas lembranças que não se apagam da memória. Quase nunca choro, tenho dificuldades. Mas gostaria, ah se gostaria de chorar, chorar e chorar. Não por medo, todavia por me sentir impotente para reparar as injustiças do mundo que me rodeia, do mundo que pune os bons e aplaude submisso os lobos devoradores disfarçados de cordeiros. Chorar faz a pessoa humana descarregar angústias e desventuras ao tempo em que renova energias para enfrentar novos desafios.
A música ameniza as incompreensões e nos faz ver o mundo com outros olhos. Minha concentração é interrompida pelos latidos do Baco e do Baruc companheiros que dividem comigo o meu santuário da paz. Sim, santuário da paz é o apelido do rancho onde moro e local no qual me escondo para reavivar a chama dos meus ideais e fortalecer minhas convicções. Nesse rancho tudo é puro, parece pequeno, mas multiplica-se no tamanho pela hospitalidade que oferece a quem o procura.
O mundo precisa de mais música e mais poesia para sensibilizar os homens e mostrar-lhes que a matéria nunca deve se sobrepor aos valores supremos que engrandecem e sublimam a alma. Tenho a absoluta certeza de que se optarmos pela música e pela poesia em vez dos enlatados da televisão diminuirá nossos problemas e melhorará nossa qualidade de vida.
Precisamos viver. Não basta só passar pela vida.
Até enquanto a censura não me cortar, novamente. (publicado no jornal C.Gabrielense em 30.07.2010).
sexta-feira, 30 de julho de 2010
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Exatamente!!
ResponderExcluirinteresante e mt bom
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