Todos sabem que sou boêmio, nunca neguei. Adoro a noite porque ela é a mais legítima e autêntica reveladora dos anseios humanos. A noite é, enfim, verdadeira. O dia é falso, hipócrita e mascarado. Não seria justo de minha parte afirmar que tudo no dia é falso, hipócrita e mascarado. Existem coisas boas no dia e uma das melhores é o Bar, uma exceção. Ponto de encontro, tanto no dia quanto na noite, depositário de confissões e onde se exteriorizam os mais diversos sentimentos. Faz falta na vida de muitos pela terapia que representa.
O Bar voltou a ser, hoje, o Centro Social de uma sociedade decadente. Pode-se afirmar, sem medo de errar, que o Bar é uma simbiose de alegria e de tristeza, do prazer e da dor, do reencontro e da fuga, dos desencontros do amor e das frustrações do jogo. Simboliza a amizade sincera, desinteressada e a solidariedade confortadora. Na vida de Bar não há preconceito de cor, de conta bancária, de credo religioso ou político e, entre um trago e outro, surgem os causos pitorescos, as mentiras incríveis e as anedotas muitas vezes criadas na hora pelo delírio alcoólico de algum desgarrado da sorte.
Entre um gole e uma tragada da fumaça do cigarro, nem sempre de boa qualidade, se lembra do ser amado que não se sabe se ainda existe ou onde está; se relembra dos amigos que partiram, definitivamente, do nosso convívio e não raras vezes a emoção toma conta de todos. Por vezes, o silêncio. Aquele silêncio respeitoso que o momento exige. A razão do silêncio, se perguntada, nenhum dos convivas sabe responder. É o momento em que cada um se volta para a intimidade do seu ser.
Quem não freqüenta nenhum Bar não vive, passa. Da infinidade de bares que já freqüentei tirei muitos subsídios que ajudam no meu aprimoramento intelectual e no meu convívio social. Grandes lições, grandes ensinamentos estão ali ao alcance de todos fazendo os momentos menos vazios. Aos solitários, uma sugestão: freqüentem um Bar, não precisa beber somente para adotar uma companhia.
As cidades são constituídas de bairros e vilas e em cada um desses locais existe o Bar, ponto de freqüência obrigatória para quem gosta de um aperitivo, de uma prosa descontraída, de um fuchico ou de uma boa fofoca e mais ainda para quem gosta de falar da vida alheia. Nas cidades são chamados de Bares; na zona rural Bolicho, Venda ou Bodega.
Alguns leitores que não me conhecem pensarão que tenho cem (100) anos. Por vezes penso que os tenho tal as experiência vividas. Muito Bolicho freqüentei e para não esquecer o nosso tradicional Bar de Campanha lembro de uns versos cuja autoria desconheço, mas que são lindos: Bolicho, Venda ou Bodega/ da velha pampa bravia/ o mesmo que pulperia/ altar do fumo e da canha/ é pequeno e não se acanha/ do pouco que tem lá dentro/ foi ele o primeiro Centro/ Social da nossa Campanha. É neste momento que bate uma saudade danada das tantas coisas que vivi e que deixei para trás.
Não sei se fui feliz ao traduzir VIDA DE BAR. O leitor que julgue.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
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