sexta-feira, 15 de abril de 2011

BRENO CALDAS

Pergunta – De qualquer maneira, com todos os problemas e dificuldades, pelo que o senhor falou antes, a saúde financeira da empresa era perfeita e, acima de tudo: era uma empresa com crédito! O senhor não mobilizou as suas boas relações do mundo político e das finanças para tentar uma ajuda e superar a fase crítica logo no nascedouro? Afinal, não era a primeira empresa a viver um mau momento...

Breno Caldas – O fato objetivo é que todos, por motivos misteriosos, ou, pelo menos, por motivos que não estão até hoje bem claros para mim, me falharam. Bem no começo das dificuldades eu tive um encontro circunstancial com o general Golbery, em Brasília. Fui visitá-lo no Palácio, uma visita de cortesia, sem qualquer outra conotação: eu já o conhecia há muito tempo, desde a época do Colégio Militar, aqui em Porto Alegre. Na saída, quando nos despedíamos, ele puxou o assunto: “Você está montando uma televisão no sul... Essa coisa exige muito investimento. Você não está precisando de dinheiro?” Respondi-lhe com franqueza que, embora o objetivo da minha visita não fosse pedir dinheiro, eu realmente estava precisando, pois os investimentos eram muitos altos. Então, ele me disse que mandaria notícias. Poucos dias depois, já em Porto alegre, recebi um recado de que o Delfim estava vindo para conversar comigo. Ele queria vir, conversar e voltar no mesmo dia à Brasília. Por ser mais discreto e perto do aeroporto combinei o encontro na casa do Francisco Antonio que ficava na Rua Dom Pedro II. Falamos francamente, expus a nossa situação, as necessidades de recursos para enfrentar os investimentos crescentes e ele disse que era tudo muito fácil: “Não tem problema. O senhor tem bens e os seus bens garantem qualquer transação que o senhor quiser. Acho melhor fazermos tudo através da Caixa Federal. Vou mandar o Gil Macieira a Porto Alegre para lhe dar o dinheiro”. E, de fato, poucos dias depois estava no meu gabinete o Gil Macieira, presidente da Caixa Econômica Federal, que também garantiu que não havia problema algum, que os bens garantiam, que bastava ver os papéis, documentos etc., etc. Mas na hora de consumar a coisa, começaram a surgir dificuldades, empecilhos... Primeiro, pequenos. Depois, crescentes. Chegaram a fazer objeções ao título de propriedade de um dos terrenos onde fica o prédio do Correio do Povo, ali, próximo à esquina da Rua da Praia com a Rua Caldas Junior! Ocorre que aquele terreno tinha sido adquirido pelo meu pai no começo do século, antes da vigência do Código Civil e, portanto, quando ainda não tinha sido instituído o Registro de Imóveis. Aí o pessoal da Caixa Econômica que deveria aprovar a documentação e liberar o empréstimo, começou a encrencar com esse prédio... Com essas indefinições a situação foi ficando difícil porque eu tinha me organizado em função daquela possibilidade que me fora oferecida de empréstimo na Caixa Federal. Mas o tempo foi passando, o empréstimo não saia, e a minha necessidade de recursos para enfrentar as despesas crescentes da TV e da reestruturação gráfica do jornal, aumentando. Fui ao Delfim de novo dizendo que precisava de recursos urgentes e o empréstimo da Caixa estava emperrado. Então, ele me sugeriu: “Por que você não pega uma Meia Três?” Aqui começa a derrocada, com a malícia do Delfim.
Por falta de espaço serei obrigado a concluir esta parte do depoimento do Breno Caldas na próxima edição. (Do Livro Meio Século de CORREIO DO POVO – Glória e agonia de um grande jornal).

Não sobrou espaço para falar na Avenida Tito Prates.
Até enquanto a censura não me cortar, novamente.

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