sexta-feira, 14 de novembro de 2014

CEZAR SALDANHA SOUZA JUNIOR


 

 

         São Gabriel (RS), 15 de março de 1991. Caro Saldanha. Saúde. Há poucos dias tentei conversar contigo ao telefone. Estavas dormindo. Deixei recado para a senhora tua mãe. Não recebi retorno.

         Saldanha, se aproxima 1993 e o que estamos fazendo pelo parlamentarismo? Nada. Não podemos desanimar. Não fosse o governo Collor que financeiramente me trouxe dificuldades (estou trabalhando muito mal) e, por certo, estaria percorrendo esta região para conscientizar nossa gente. Gostaria de ter tua intelectualidade e o teu preparo para que aliados à minha resistência e voluntariedade mudar o pensamento do Rio Grande. Não podemos abandonar o objetivo de ver nosso ideal realizado, pois o dia em que isso acontecer começaremos a morrer. Estudas a possibilidade de uma conferência em São Gabriel, me informa uma data disponível e então conseguirei um espaço com os senhores vereadores.  Estou tremendamente preocupado com os rumos do nosso país. Somente a reorganização da família e o resgate de nossos princípios morais nos afastarão da catástrofe que se avizinha. Estão os poderes constituídos por incompetência ou má fé minimizando a crise que assola o país. Não podemos ficar a mercê de um Presidente narcisista e de uma déspota na economia.  Chega de engodos, palavras bonitas e mentiras. Tenho a certeza de que se os políticos e aqueles que formam opinião neste Brasil, sem segundas intenções, afirmarem todos os dias de que as grandes nações existem porque têm grandes povos acordaremos para o desenvolvimento. A inversão de valores é uma realidade e somente com muita abnegação, coragem, renúncias, nós educadores, homens sem votos, mas devotos conseguiremos recolocar as coisas nos seus devidos lugares. E isso é possível. Precisamos justificar nossa passagem por esta vida porque fatalmente a história nos julgará ou na pior das hipóteses, os que virão.

         Sei que sou pequeno, mas se dependesse apenas dos meus sentimentos, pode crer, a sociedade seria melhor.

         Desculpa-me o atrevimento, mas o Brasil ainda precisa de nós. E não podemos faltar-lhe. Com um forte abraço. Bereci da Rocha Macedo.

        

         ### Não é de hoje minha preocupação com a coletividade e por isso talvez não me surpreenda com a decadência moral que assola o Brasil nos dias de hoje. Tenho essa percepção desde muitos anos idos, mas isso é próprio das pessoas despidas de vaidade e de ambições materiais. Os resultados são modestos porque a grande maioria se faz de surda e luta somente pela sua riqueza material. Não nasci para ser entendido e por essa razão não me preocupo com tamanha indiferença. Nasci só e nunca me assustou a possibilidade de viver só. Só não, pois vivo acompanhado das minhas convicções.

        

        

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