São Gabriel (RS), 15 de março de 1991.
Caro Saldanha. Saúde. Há poucos dias tentei conversar contigo ao telefone.
Estavas dormindo. Deixei recado para a senhora tua mãe. Não recebi retorno.
Saldanha, se aproxima 1993 e o que
estamos fazendo pelo parlamentarismo? Nada. Não podemos desanimar. Não fosse o
governo Collor que financeiramente me trouxe dificuldades (estou trabalhando
muito mal) e, por certo, estaria percorrendo esta região para conscientizar
nossa gente. Gostaria de ter tua intelectualidade e o teu preparo para que
aliados à minha resistência e voluntariedade mudar o pensamento do Rio Grande.
Não podemos abandonar o objetivo de ver nosso ideal realizado, pois o dia em
que isso acontecer começaremos a morrer. Estudas a possibilidade de uma
conferência em São Gabriel ,
me informa uma data disponível e então conseguirei um espaço com os senhores
vereadores. Estou tremendamente
preocupado com os rumos do nosso país. Somente a reorganização da família e o
resgate de nossos princípios morais nos afastarão da catástrofe que se
avizinha. Estão os poderes constituídos por incompetência ou má fé minimizando
a crise que assola o país. Não podemos ficar a mercê de um Presidente
narcisista e de uma déspota na economia.
Chega de engodos, palavras bonitas e mentiras. Tenho a certeza de que se os políticos e aqueles que
formam opinião neste Brasil, sem segundas intenções, afirmarem todos os dias de
que as grandes nações existem porque têm grandes
povos acordaremos para o desenvolvimento. A inversão de valores é uma
realidade e somente com muita abnegação, coragem, renúncias, nós educadores,
homens sem votos, mas devotos
conseguiremos recolocar as coisas nos seus devidos lugares. E isso é possível.
Precisamos justificar nossa passagem por esta vida porque fatalmente a história
nos julgará ou na pior das hipóteses, os que virão.
Sei que sou pequeno, mas se dependesse
apenas dos meus sentimentos, pode crer, a sociedade seria melhor.
Desculpa-me o atrevimento, mas o Brasil
ainda precisa de nós. E não podemos faltar-lhe. Com um forte abraço. Bereci da
Rocha Macedo.
### Não é de hoje minha preocupação com
a coletividade e por isso talvez não me surpreenda com a decadência moral que
assola o Brasil nos dias de hoje. Tenho essa percepção desde muitos anos idos,
mas isso é próprio das pessoas despidas de vaidade e de ambições materiais. Os
resultados são modestos porque a grande maioria se faz de surda e luta somente
pela sua riqueza material. Não nasci para ser entendido e por essa razão não me
preocupo com tamanha indiferença. Nasci só e nunca me assustou a possibilidade
de viver só. Só não, pois vivo acompanhado das minhas convicções.
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