terça-feira, 6 de março de 2012

MORRER EM PÉ

“Os apóstolos da fé/ que usam lenços vermelhos/ se sabem morrer em pé/ não sabem viver de joelhos”.

Recebi esta mensagem há mais ou menos dez anos. O autor me é desconhecido já que quem a enviou não o cita, mas acredito que seja do Juca Ruivo.

Posso afirmar que ela foi endereçada ao homem certo. Libertador, dos portadores do verdadeiro lenço vermelho, recebi uma formação extraordinária de meus velhos pais e muito cedo aprendi o significado do que é ter um “nome”. Recebi uma esmerada iniciação política de Libertadores como Jerônimo Firpo, do médico Inocêncio Gonçalves, do Amarílio Teixiera e de tantos outros. Cito estes por serem os mais íntimos. Tenho procurado ser correto comigo, com minha família, com minha sociedade e com os amigos. A cidade, em geral, me repele. Tenho sido maltratado, discriminado social, política e profissionalmente. Por quê? Porque não sei andar de joelhos. Fui, sou e serei, enquanto viver, um rebelde. Sou rebelde porque neste país é proibido pensar.

Sempre que representei minha terra o fiz com orgulho, brilho e competência. Convidado especial para participar da Constituinte Estadual me fiz presente. Fui um pouco assustado. Retornei da capital assustadíssimo porque dimensionei de perto o pouco preparo de nossos homens bons de voto. Lá estavam o Collares, o Fogaça, o Cezar Saldanha (a exceção), o Athos Rodrigues, o João Paulo Moraes, o João augusto Nardes, o Haroldo Campos Velho e tantos outros. Na Subcomissão dos Poderes discutíamos as formas e os sistemas de governo. Defendi a República Parlamentarista.

Apesar de ser um estudioso da política não fui convidado para participar da Constituinte Municipal. Nada disso me abate. Ao contrário, me estimula. Tenho recebido, ao longo da vida, o estímulo e o apoio qualitativo de poucos amigos. É, por demais, gratificante. Sou um solitário apóstolo da fé. Fé nos meus ideais, nas minhas convicções e nas minhas possibilidades; fé de que um dia a justiça triunfe e os malfeitores paguem pelos seus crimes.

Desprovido de riquezas materiais sou imune à cobiça e a apropriação indevida. Tenho dificuldades e quem não as tem? A verdade e a transparência são minhas preferências. Sou livre, independente. A morte não me assusta porque é ela justamente que nos torna imortais (alguns). Os homens que tentaram mudar os sentimentos de uma coletividade sempre foram incompreendidos. Fico triste quando vejo meu “povo” de joelhos e mendigando quando altaneiro deveria exigir melhor tratamento e maior respeito das autoridades que não tendo mais do que se aproveitar lhe tiram a identidade e o pouco do amor próprio que lhe resta.

Aos humildes, aos honestos, aos omissos, aos bêbados que também têm a sua história, aos fracos, aos desiludidos, aos desesperados, aos famintos e aos injustiçados um último recado: não se deixem enganar, levantem a cabeça, recusem as migalhas que lhes oferecem porque elas são os restos do banquete dos poderosos. Saiam dessa penumbra que não conhece vitória e nem derrota e se unam na busca de valores que não acabam em um prato de sopa. Exijam trabalho digno. Se faltar coragem pensem em mim que sou um de vocês. Levantem-se, deixem de andar de joelhos para que possam juntamente comigo dizer: “NÓS SABEREMOS MORRER EM PÉ”. (Tribuna do Povo, 15 de julho de 1994).

Tenho o orgulho de republicar este artigo vinte e sete (27) anos após sua primeira edição e constatar que sou o mesmo. Há poucos dias uma leitora me questionou sobre minha radicalidade ao que respondi: não sou radical, sou indignado porque tenho brios. E completei: o dia em que a minha indignação acabar podem acreditar que mesmo vivo já estarei morto, porém isso não acontecerá.

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