quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

VARREDORES DAS RUAS

Aqueles que levantam cedo ou deitam tarde todos os dias encontram chefes de famílias que ganham o sustento dos seus através do trabalho honroso e digno de limpar as ruas. São homens comuns, quase sempre ignorados, que pela maioria nem sempre são contemplados com um simples bom dia. Abnegados, realizam seu trabalho sem reclamo algum. Uns não tiveram a feliz oportunidade de freqüentar colégios; outros, se as tiveram não souberam aproveitá-las. São corajosos, briosos, porque reúnem forças para realizar um trabalho como qualquer outro, porém não tão bem remunerado. São humanos, capazes, inteligentes, mas não conseguiram chances de desenvolver suas potencialidades. A vida está plena de exemplos. Não é qualquer analfabeto que tem o privilégio de ser secretário municipal. Os que chegam lá é porque, não tendo escolaridade e titulação, são por demais inteligentes. Neste caso invertem-se os papéis; é a elite burra assessorada pelo proletariado inteligente.
Ao prestar este reconhecimento aos varredores das ruas me reporto aos longínquos anos de 1959-1962 quando para estudar no Ginásio São Gabriel precisei “varrer as salas de aulas” em paga dos meus estudos. Caros varredores das ruas aquilo em nada diminuiu minha capacidade intelectual, em nada me ofendeu, em nada me humilhou, pelo contrário, foi uma lição de vida da qual até hoje tiro subsídios para o enfrentamento de novos desafios. Os sábios Irmãos Maristas, professores por excelência, conhecedores da minha forte personalidade sempre me diziam que não lhes devia favor algum, pois “pagava” com meu trabalho os ensinamentos recebidos naquele educandário orgulho inconteste da instrução em São Gabriel.
Por que se precisa dos varredores das ruas? Por que se precisava dos varredores das salas de aulas? Os primeiros até hoje são necessários para retirarem a sujeira das ruas produzida pelos cultos (ou curtos?) participantes de uma sociedade indisciplinada e arrogante. Os segundos não existem mais porque os carentes de hoje recebem tudo gratuitamente desde a escolaridade fundamental até a tão cantada formação acadêmica e não satisfeitos com isso se ofendem quando precisam trabalhar para manter o sustento e sua preparação escolar.
Com orgulho afirmo, senhores varredores das ruas, que apesar de “varredor de aulas” não era o último da classe.
O leitor se detendo um pouco na matéria se convencerá da importância dos varredores das ruas, pois se não fosse sua atividade muitos cidadãos se afogariam no lixo produzido pela sua própria deseducação.
É o momento de se criar os varredores dos parlamentos para que as comunidades não se afoguem na sujeira produzida lá dentro. Os acontecimentos do fim de ano são a prova inconteste do desrespeito e do deboche. Há que se destacar os parlamentares que votaram contra o percentual de aumento exagerado. A maioria profissional só pensa no dinheiro.
Até enquanto a censura não me cortar, novamente.

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