sexta-feira, 1 de outubro de 2010

HÁ 35 ANOS

O radialista Antonio Paulo Evangelho de Oliveira mantinha na Rádio São Gabriel um programa cujo nome, se não me falha a memória, era “A voz da cidade” e contava com a participação deste articulista com uma inserção cujo título era “Pensando em voz alta”. O Antonio Paulo apresentava o texto escrito por mim. Lá vai: Ouvintes, bom dia. Pois meus senhores, um fato que vem merecendo uma atenção especial por parte das autoridades e do poder público é o aumento alarmante da criminalidade. Chega a ser impressionante no mundo atual como se ceifam vidas humanas e os senhores todos os dias lêem nos jornais, revistas e até acompanham pela televisão a prática dos crimes mais hediondos e sádicos. Tem-se a impressão que as autoridades repressivas se acham impotentes para conter e encontrar as causas de tais crimes. Há algum tempo já falei nesta mesma emissora que junto com o progresso de um país crescem também os seus traumas sociais e se olharmos para os Estados Unidos da América, um dos países mais adiantados do mundo, veremos que é lá que são praticados os crimes mais horrendos que fogem à compreensão humana tais suas perfeição e atrocidade.
Penso que deve existir um trabalho de base e de prevenção que deverá começar com a orientação dos filhos no lar, nas escolas, para que todos adquiram bons conhecimentos e boa educação e em conseqüência disso ter um bom comportamento na sociedade.
Tenho a impressão que muitas vezes a frustração dos filhos se deve aos desacertos na união dos pais, pois ao verem o casamento fracassado eles procuram uma fuga nos tóxicos, entorpecentes e assim procedendo estão a um passo do crime.
Deve-se, portanto estar bem preparado e se conhecer o suficiente para tomar a decisão do casamento para que depois inocentes não venham sofrer as conseqüências de atitudes precipitadas.
A questão é grave e está em aberto. Todos devem ajudar as autoridades a sanar tais problemas os quais na maioria das vezes são criados dentro dos nossos lares. Peço aos que me ouvem que meditem sobre o problema. Até amanhã. Bereci da Rocha Macedo – São Gabriel, 01 de setembro de 1975.
Eu tinha 29 anos, mas já percebia a degringolada do chamado mundo moderno e do esfacelamento do clã familiar. O Brasil estava sob o regime militar, porém o caos social começava a se instalar definitivamente no país. E ninguém fez nada, ninguém preocupou porque quem chamava a atenção para tão graves problemas era um boêmio de São Gabriel. Não era um profeta, não era um intelectual de formação acadêmica era tão somente um indivíduo que habitava e habita a periferia da cidade.
O Antonio Paulo tinha talento e por essa razão tinha noção da minha capacidade haja vista que de quando em vez me dava oportunidade nos seus programas e creio que nunca o decepcionei.
O processo de aniquilação moral deste país está em andamento há muito tempo para alegria e locupletação dos seus torpes, mesquinhos e gananciosos grupos dominantes.
Estava previsto.
Até enquanto a censura não me cortar, novamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário