BERECI DA ROCHA MACEDO
Quando eu me for deste mundo,
quem vai ficar na janela
olhando os pingos da chuva
desenhando o corpo dela.
Não sei o autor destes versos. Ela? Não sei se ainda existe, mas quando chove e estou só no meu rancho e assisto os pingos da chuva correrem, suavemente, pela vidraça, mentalmente, eu desenho o corpo dela. Será que se lembra de mim? Não sei, mas seria bom se lembrasse.
Quando eu me for deste mundo
quem vai clamar liberdade
quem vai quebrar as amarras
quando eu me chamar saudade.
Claro que ninguém é insubstituível e naturalmente aparecerá alguém melhor do que eu para continuar clamando liberdade para um povo que teima em ser escravo de sua própria omissão e da falta de auto-estima. Nasci para ser livre e hei de morrer livre. Livre das amarras da corrupção, livre das amarras das facilidades, livre das fraquezas que fazem o homem desistir da boa luta e se entregar a qualquer tipo de aventureiro que distribui as migalhas, mas que fica com a maior parte do butim. E um dia também me chamarei saudade.
Quando eu me for deste mundo
pra o mundo do nunca mais
quero que fique o meu canto
pra que eu não morra jamais.
Não sei cantar, Deus não me concedeu essa dádiva, mas imitaria o autor, que desconheço, dizendo: quero que fique meu grito, pra que eu não morra jamais. Meu grito de rebeldia contra os tiranos de gabinete que em nome do povo exploram esse mesmo povo; meu grito de rebeldia contra os acomodados e os covardes que justificam suas fraquezas escondendo-se atrás da família; meu grito de rebeldia contra os falsos líderes que defendem interesses próprios quando deveriam defender os interesses dos liderados; meu grito contra as amarras da indiferença e da covardia coletivas; o grito de um homem que vive na trincheira do trabalho, da dignidade e do respeito; o grito de um homem que luta desassombrado, sem recursos e sem tribuna, exceto este espaço, por seus ideais e suas convicções; o grito de um homem que, ao contrário dos fracos, busca na tradição familiar as energias para enfrentar aqueles que quiseram silenciá-lo e desmoralizá-lo com propostas indecorosas; o grito de um homem que exige respeito dos vendilhões de partidos; o grito, enfim, de um homem que não morrerá jamais porque se criou enfrentando e vencendo adversidades, leal e reconhecido aos amigos, um vencedor, pois não vendeu nem venderá a sua identidade e jamais aceitará cabresto de quem quer que seja. E quando seus restos repousarem soberanos sob o manto da liberdade e o sussurrar dos ventos que alguém tenha a coragem de dizer: aqui jaz um homem que viveu e morreu lutando, sem medos e sem meias palavras, na defesa intransigente de seus ideais, na preservação da verdade e na construção de uma sociedade mais justa para todos.
Até outra.
terça-feira, 7 de julho de 2009
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