sexta-feira, 3 de outubro de 2014

ENTREVISTA COM ALMIR P. PINTO (última parte)


 

 

 

            U. I. – Qual a consequência prática dessa insegurança jurídica?

PAZZIANOTTO – Estou preocupado com isso em virtude da globalização. O Brasil hoje enfrenta um problema seriíssimo de concorrência. Não posso analisar o direito desligado da realidade econômica. O exemplo mais evidente é a China. Diante da incapacidade que o Brasil tem de concorrer com a China, diz “lá o trabalho é escravo”, “lá o salário é baixo”, “lá o governo é autoritário”. O que nós devemos ter em mente é que nós não vamos conseguir  mudar a China. Nós podemos mudar o Brasil. Nem os EUA conseguiriam mudar a China, tanto que eles estão buscando estabelecer um modus vivendi com eles.

O Brasil mandou recentemente 300 empresários para lá junto com a presidente Dilma. Eles foram ensinar a China ou aprender com a China? Creio que nós temos mais a aprender do que a ensinar. Não significa apanhar a realidade da China e transpor para o Brasil, mas nós precisamos entender que não conseguiremos afastar a China do mercado e que o consumidor não compra por patriotismo, ele compra movido pela necessidade ou pelo desejo e vai buscar sempre o que lhe for mais acessível e de melhor qualidade.

O custo mais elevado em qualquer processo produtivo é o da mão de obra. O que espero é que se aumente o nível de segurança jurídica, sobretudo em função do pequeno empresário, que é o responsável por uma quantidade gigantesca de empregos.

As grandes empresas, com mais de 1.000 empregados, representam 0,05% do total. O que realmente movimenta a economia é esse pequeno empreendedor, que está sujeito aos rigores da lei da mesma forma que uma grande multinacional. Daí porque a taxa de mortalidade infantil dessas pequenas empresas é elevadíssima. Porque o sujeito não consegue arcar com os custos e arcar com essa insegurança.

U. I. – Um grande fator de críticas à Justiça do Trabalho é quanto ao seu protecionismo, porque ela parte do pressuposto de que o trabalhador é parte mais frágil da relação de trabalho. Qual sua opinião a respeito?

PAZZIANOTTONão é ela quem diz, é a lei. A lei se baseia no princípio falso de que todo trabalhador é um relativamente incapaz. O sujeito pode ser um gênio, mas, se tiver carteira assinada, para os efeitos da lei ele é relativamente incapaz. Exemplo: um grande jornalista se cansa de trabalhar no jornal e monta uma assessoria de imprensa. Mas para ele prestar serviço, precisa emitir nota fiscal. Ele se estabelece como empresário do setor de comunicações, cria uma empresa e passa a emitir nota fiscal. Essa figura é prevista pelo Código Civil, o famoso PJ. Mas diante do direito do trabalho o PJ é um infrator. Um médico que seja PJ é um infrator, um advogado é um infrator, um jornalista é um infrator. Mas é uma infração pela qual quem será acusada é a vítima, que é o tomador do serviço, que pagou tudo quanto foi combinado, mas continua sujeito a sofrer um processo em que se pedirá relação de emprego. E a Justiça vai conceder, porque ele é relativamente incapaz, um hipossuficiente que não sabia o que estava fazendo, por muito dinheiro que houvesse ganho como PJ.

É mais ou menos o que se passa com a terceirização. É uma prática habitual, o governo pratica a terceirização, mas o Ministério do Trabalho não aceita e a Justiça do Trabalho condena.

 

            Acredito que a transcrição dessa longa entrevista com o senhor Almir Pazzianotto Pinto foi suficiente para os leitores tomarem conhecimento porque na prática se diz que a Justiça do Trabalho é um dos fatores que aumenta o desemprego.

            A legislação atrasada, paternalista e injusta expõe os empreendedores à total insegurança jurídica nas relações com os trabalhadores, fazendo, muitas vezes, com que sejam penalizados por mais corretos que tenham sido no cumprimento de suas obrigações trabalhistas.

            E é com sobradas razões que se diz também que o exercício do direito trabalhista por muitos advogados é uma fonte de riqueza inesgotável.

            Por incrível que pareça o autor dessa entrevista nada mais é do que o advogado trabalhista, ex-Ministro do Trabalho e Ministro do TST. Merece, pois, uma atenção especial.

            A responsável por todo esse atraso na nossa legislação é a maioria dos eleitores que vota em qualquer candidato, menos nos realmente capazes de legislar.

           

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