Este é um trecho do depoimento do senhor BRENO CALDAS a José Antonio Pinheiro Machado há mais de vinte (20) anos. Há fortes indícios de que as administrações da União e do Rio Grande se uniram para liquidar a única imprensa livre do Brasil patrocinada pela Empresa Jornalística Caldas Júnior.
Pergunta – Na Guaíba, o senhor viveu, em 1961, o episódio da Legalidade, movimento liderado pelo então governador gaúcho Leonel Brizola para garantir a posse do vice-presidente João Goulart depois da renúncia do Jânio. Qualquer gaúcho de mais de trinta anos ainda lembra – e os de menos de trinta ouviram contar – a famosa Rede da Legalidade, comandada pela Guaíba...
Breno Caldas – Quando o Jânio renunciou surgiu uma situação delicada porque o Jango estava na China em visita oficial e surgiu um movimento militar para não dar posse a ele que era o sucessor legal, o substituto legítimo. E o Brizola resistiu a esse movimento, apoiado pelo III Exército. Os ânimos esquentaram, a coisa ferveu e nós divulgamos alguma coisa que não lembro bem o que foi, mas exasperou o pessoal da censura federal... Era uma bobagem... A censura tem um critério besta para proibir as coisas. Sabe como é censura... Em geral o critério é besta mesmo. Eles proibiram divulgar notícias sobre a resistência do Brizola. No outro dia dessas proibições, o Contursi, assessor de imprensa do Brizola me telefonou de manhã dizendo que o governador queria falar comigo. O Brizola veio ao telefone, me cumprimentou e disse: “Dr. Breno eu quero avisá-lo que resolvi encampar a Rádio Guaíba. Já ocupei os transmissores lá na ilha e vou ocupar agora aqui no centro e quero lhe dar conhecimento disso”. Eu respondi que não aceitava uma situação nesses termos: “Isto aqui é uma concessão federal e é uma propriedade privada; o senhor está invadindo uma propriedade privada e ao mesmo tempo esbulhando um direito de exploração de uma concessão regularmente concedida”. Aí ele disse que precisava e que a ocupação já estava em curso. Eu disse então que não concordava e que ia para a rádio resistir. O Brizola ponderou, insistiu e disse que não adiantava tentar resistir que a ocupação já estava em curso. Depois de muita discussão eu falei: “Então o senhor faz o seguinte, me manda uma carta ou um ofício... um documento oficial... o senhor assuma toda a responsabilidade desse gesto. Assim, da minha parte não haverá problema, eu não posso fazer nada, só posso me conformar com o fato consumado, mas, ao menos, quero me resguardar”. “Não tem dúvida nenhuma”, disse o Brizola, “vou lhe mandar em seguida um ofício e vou mandar por um colega seu, o senhor pode ir lá para a rádio que logo chega lá”. Eu fui lá para a rádio e, de fato, estava tudo cercado pela polícia de choque, aqueles de gorro vermelho. Não queriam nem me deixar entrar ali no nosso prédio da Rua Caldas Júnior. Aí chegou o Gabriel Obino com um ofício do Brizola, que eu tenho até hoje, dizendo que naquele instante estava assumindo a rádio e que se responsabilizava por todos os problemas daí decorrentes. Ele levou o chefe da parte técnica, o Homero Simon, que era correligionário dele para o Palácio e instalou um estúdio lá, onde a Guaíba passou a transmitir músicas marciais, hinos belicosos e o Brizola discursando a cada meia hora...
Por falta de espaço, concluirei na próxima edição. Não percam, é a melhor parte.
Até enquanto a censura não me cortar, novamente.
sexta-feira, 11 de março de 2011
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