terça-feira, 15 de março de 2011

Da LEGALIDADE (cont)

Pergunta - ...e aí se formou a famosa Rede da Legalidade...
Breno Caldas – Não, no início era só a Guaíba. Só a Guaíba foi requisitada, ou “encampada”, como disse o Brizola. As outras estações ficaram no ora veja. Aquele fato político da Legalidade teve uma repercussão enorme, as pessoas acompanhavam cada passo, cada lance, a audiência era expressiva. Aí a Rádio Gaúcha resolveu aderir ao negócio, pediu para entrar... e entrou. Depois de tudo, aconteceu um fato curioso. Um dia apareceu lá na Guaíba um diretor do Banco do Rio Grande e queria me dar dinheiro: disse que estava lá por ordem do governador para fornecer recursos, os recursos que eu precisasse a título de indenização pela ocupação da rádio. Eu disse que não precisava, que não queria... ele ficou surpreso: “Mas o que é que eu vou dizer ao governador”? “diga que eu não quero dinheiro. No fim da ocupação eu vou mandar uma conta, uma conta detalhada, correspondente exatamente às horas que ele ocupou a rádio”. E, realmente, quando terminou o negócio nós fizemos lá as contas de quantas horas a rádio ficou no ar a serviço da Legalidade e deu uma coisa ridícula... 25 contos de réis... Mandei a conta e eles pagaram. O nosso Maurício Sobrinho também resolveu mandar a conta da Gaúcha embora a Gaúcha não tivesse sido requisitada ou encampada, mas sim aderido à Legalidade. Naquela época o Maurício tinha comprado a TV Gaúcha do Balvé... e lhe estava devendo 250 contos, o cobrado pelo período da Legalidade... Então, na prática o governo do Estado pagou a aquisição da TV Gaúcha... (extraído do Livro – BRENO CALDAS – MEIO SÉCULO DE CORREIO DO POVO, 1987 – Glória e Agonia de um grande jornal).
Os aproveitadores estão em todos os lugares e as grandes fortunas na maioria das vezes, supõe-se, nascem à sombra do poder. Isso vale para o ontem, para o hoje e para o amanhã. Enalteço BRENO CALDAS porque foi um homem que usou seu grande patrimônio para honrar os compromissos da Empresa Jornalística Caldas Júnior da qual era avalista. Uns dirão: não fez mais que a sua obrigação. Correto, mas porque os outros não fazem?
Na era dos Memoriais entendo que esse homem é o mais merecedor porque deu exemplos de dignidade, de auto-estima e de responsabilidade sem roubar o povo gaúcho e o brasileiro. Talvez por isso esteja esquecido.
“AOS AMIGOS, TUDO! AOS INIMIGOS, OS RIGORES DA LEI”. A autoria desta frase é atribuída, por uns, a Getúlio Vargas, por outros a Borges de Medeiros e por muitos a Aristóteles. Não interessa, no momento, seu autor, mas sim seu conteúdo. Ela retrata que quem detém o poder favorece os amigos, os íntimos e os outros que se danem. Muitos impérios da iniciativa privada que o povo tanto aplaude foram criados à sombra do poder e com dinheiro público. É o chamado tráfego de influência. Não tenho conhecimento de alguém que exerça o poder convocando adversários. Normalmente eles neutralizam os venais atraindo-os para o seu lado com um cargo qualquer que não coloque em risco seu projeto. É a chamada desmoralização das oposições e a prostituição política dos que não tem um pingo de moral. Convencimento é uma coisa, adesão é outra bem diferente. E assim como existem os comuns de dois na matemática, existem os comuns de todos, desde que estejam no poder.
E o calçamento da Tito Prates sai ou não?
Até enquanto a censura não me cortar, novamente.

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