Transcrevo na íntegra, de autoria da jornalista Eliane Cantanhede.
Se o deputado Severino Cavalcanti é o “rei do baixo clero” do Congresso, o jornalista Lúcio Flávio é o “rei do baixo clero” na imprensa.
Os motivos, porém, são completamente diferentes, até opostos. Um, Severino, está dentro do “baixo clero”. O outro, Lúcio, observa de fora, persistente, quem é, o que é, como age e por que (ou por quem) age o “baixo clero”.
Este livro de Lucio Vaz é um livro sobre os “severinos” e os perigos que eles representam. Lúcio, como ninguém, conhece, entende e reporta quem são, como são e como operam os agora notáveis líderes do “baixo clero” que viraram “cardeais”. Viu e contou reuniões de arrepiar os cabelos, liquidar com as esperanças e ideologias. Entrevistou os espertos que compram e os mais espertos ainda que vendem votos, trocam de partido como de camisa e são decisivos para manter o país no atraso. Ou, pior, para manter milhões de pessoas excluídas do progresso, da civilização e do alcance do Estado.
Severino é um legítimo líder dos deputados sem ideologia, sem visão pública, preocupados mais com o corporativismo interno do que com o interesse da população – ou do eleitor. Lúcio Vaz é o jornalista que mais estudou, entendeu, seguiu e relatou esse mundo à parte, mas cada vez mais importante, do Parlamento brasileiro. Digamos que seja um expert nos “severinos” da política.
Severino Cavalcanti é aquele político tosco, às vezes divertido, que conhece côo ninguém os corredores, gabinetes e as imensas vantagens que a Câmara pode oferecer, não como Casa de representação popular, mas como casa empregadora e distribuidora de mimos para seus “empregados”. Ele lidera uma legião de parlamentares que estão longe dos holofotes e dos microfones, mas muito perto das benesses do poder. Um dia já foram chamados de “300 picaretas” por um retirante que virou líder sindical, depois deputado federal e por fim presidente da República. E que agora tenta suportar e ser suportado pelos “picaretas” que antes condenava.
Já Lúcio Vaz é o jornalista que há 15 anos anda na contramão da cobertura política em Brasília. Repórteres, colunistas, chefes e editores freqüentamos os gabinetes das presidências e das lideranças, circulamos pelo Salão Verde da Câmara, somos aceitos no cafezinho do Senado. Conversamos sobre política, estratégia, acordos táticos, futuro da Nação. Ou corremos com nossos gravadores e bloquinhos de anotações atrás de declarações fluídas e carregadas de significados pelos tapetes que separam plenários de gabinetes. Lucio Vaz, não. Ele vai, literalmente, mais fundo. Sai da superfície dos concretos e vidros de Oscar Niemeyer para escarafunchar o “baixo clero” nos meandros mais subterrâneos.
Hoje, porém, superfície e subterrâneo se encontram. “Cardeais” e “baixo clero” disputam os mesmos gabinetes e cargos. Lucio Vaz e os demais repórteres, colunistas, chefes e editores se confundem e se trombam em todos os locais do Congresso.
O “baixo clero” chegou ao poder. Saiu dos subterrâneos e emergiu para a as presidências e lideranças. Ocupa a tribuna de honra, determina a pauta, a agenda, conduz as votações, pressiona os governos. E ganha mais e mais vantagens. Antes, pressionava para ganhar. Agora, tem a caneta. Basta assinar e estamos todos conversados.
A obra de Lucio Vaz, que além de tudo tem um texto solto, fácil de degustar, pode ser classificada como o livro certo na hora certa. Ele desfaz a sensação de que a vitória de Severino foi uma surpresa. E conta como Severino, em nome dos seus “severinos”, conseguiu, devagar e sempre, de reunião em reunião, de negociação em negociação, evoluir de “rei do baixo clero” a presidente da Câmara dos Deputados. Um processo que durou anos. E que, agora, parece de uma clareza cristalina. Estava escrito nas estrelas. E está muito bem contado neste livro revelador.
## Qualquer semelhança com o que acontece na província é mera coincidência.
Até enquanto a censura não me cortar, novamente.
terça-feira, 11 de maio de 2010
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