Por Renan Antunes de Oliveira
Postado em 11 jul 2016 por: Diário do Centro do Mundo
Três vê na Lava jato “uma
excrescência jurídica e com claros atropelos à Constituição”. Ele trabalhou com
alguns dos integrantes do MPF que hoje estão na força-tarefa da lava Jato e
acredita que “existe uma natural exacerbação que parece de boa fé, mas
inaceitável. É ridículo um procurador invocar Deus” (referindo-se, sem citar,
ao chefe da equipe de procuradores, Deltan Dallagnol).
O procurador disse ainda que “mais
atropelos vêm aí, como aquele pacote de 10 mwedidas anticorrupção enviado ao
Congresso. Não é tarefa do MPF, e além do mais tem mais erros grosseiros no
item das nulidades, só vai piorar coisas se aprovado”. Três diz também que a”a
Justiça tem efeito indevido na política, mas o Brasil é movido por tsunamis”.
Três comandou o inquérito das contas
CCS do Caso Banestado. O modelo de investigação quebrou o sigilo de milhares de
pessoas e empresas, flagrando as irregularidades.
Ele ainda hoje mantém cópia dos
volumes do inquérito em seu gabinete. Gosta de exibi-los aos interessados.
“Nunca se pôde fazer justiça porque o governo FHC tinha altos membros
envolvidos. Parte do dinheiro serviu para compra de votos para a reeleição
dele, outro escândalo da época”, lembra, manuseando os documentos.
“Nós do MPF tivemos que desmembrar
cada ação por domicílio fiscal dos suspeitos, o que se tornou um pesadelo. O
Banco Central e a PF nunca colaboraram efetivamente, até atrapalhavam as
investigações, visivelmente por ordem do Executivo. Por causa disso os
principais mandantes nunca foram presos”.
Celso diz que “os efeitos do caso
Banestado até hoje são sentidos. O atual governador do Paraná, Beto Richa,
tinha despachado para o exterior 1 milhão de dólares, sem comprovar a origem do
dinheiro”.
Ele exibe documentos e mostra que o
Banco Araucária (do ex-senador e governador biônico catarinense Jorge
Bornhausen) enviou para o exterior 2, 4 bilhões de dólares.
“Nossa experiência de combate à
corrupção serviu como modelo para a Lava Jato. Não pudemos avançar porque a CPI
deu em pizza. E um dos entraves foi quando flagramos a Rede Globo e a RBS
mandando dinheiro para fora”.
A carreira de Três declinou depois que
ele fez as denúncias da mídia para a mídia – nunca foi indicado para nenhum
prêmio. Pior: só recebeu ameaças de morte. Foi movido para outras comarcas.
Lotado em Santa Catarina no ano
2000, iniciou um processo que o botou na geladeira de vez: tentou quebrar o
monopólio da RBS (repetidora da Globo) no estado. Ele sustenta que a empresa
“monopolizou a imprensa em SC, controla rádio, jornais e TVs, ferindo a
Constituição”.
O caso ainda está PE pendente de
decisão do TRF4, em Porto Alegre. Celso Três é procurador em Novo Hamburgo, no
interior do Rio Grande do Sul.
ENTENDA O ESCÂNDALO DO BANESTADO
O que é: maior caso de evasão de divisas do Brasil.
Quanto: 128 bilhões de dólares. Quase 420 bilhões de
reais ao câmbio atual.
Quando: 1996
a 2003.
Onde: epicentro em Foz do Iguaçu (PR), com raio de ação em
todo o Brasil, N. Iorque e Bahamas. Origem
do nome:o caso foi descoberto na agência do Banestado, em Foz do Iguaçu.
Investigados: 3 mil pessoas, empreiteiras, mídia, bancos e casas de câmbio.
Condenados: 26 laranjas, nenhum político ou empresário poderoso.
Legado: o modelo de investigação internacional
reinventou o papel do Ministério Público Federal, criou as bases da moderna
Polícia Federal para investigar crimes financeiros, obrigou o judiciário a
criar varas especializadas como aquela que Sérgio Moro comanda, forçou o
Executivo a reequipar a PF e o MPF, e serviu de modelo para a Lava Jato.
Personagens: Procurador do MPF Celso Três e delegado da PF José Castilho Neto
(segue na PR. Edição)
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