domingo, 20 de março de 2016

NUNCA SE ROUBOU TÃO POUCO



Ricardo Semler (21.11.2014-Folha SP)
            Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobrás nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito.
            Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso. Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a bandalheira da cúpula.
            Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris sabia-se dos “cochon dês dix por cent”, os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade da importação de barris de petróleo em décadas passadas.
            Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão – cem vezes mais do que o caso Petrobras – pelos empresários?
            Virou moda fugir disso tudo para Miami, mas é justamente a turma de Miami que compra lá com dinheiro sonegado aqui. Que fingimento é esse?
            Vejo as pessoas vociferarem contra os nordestinos que garantiram a vitória da presidente Dilma Roussef. Garantir renda para quem sempre foi preterido no desenvolvimento deveria ser motivo de princípio e de orgulho para um bom brasileiro. Tanto faz o partido.
            Não sendo petista, e sim tucano, com ficha orgulhosamente assinada por Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país.
            É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo.
            Votei pelo fim de um longo ciclo do PT, porque Dilma e o partido dela enfiaram os pés pelas mãos em termos de postura, aceite do sistema corrupto e políticas econômicas.
            Mas Dilma agora lidera a todos nós, e preside o país num momento de muito orgulho e esperança. Deixemos de ser hipócritas e reconheçamos que estamos a andar à frente, e velozmente, neste quesito.
            A coisa não para na Petrobras. Há dezenas de outras estatais com esqueletos parecidos no armário. É raro ganhar uma concessão ou construir uma estrada sem os tentáculos sórdidos das empresas bandidas.
            O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras.
            É lógico que as defesas desses executivos  presos vão entrar novamente com hábeas corpus, vários deles serão soltos, mas o susto e o passo à frente está dado. Daqui não se volta atrás como país.
            A turma global que monitora a corrupção estima que 0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1%, e estimam ter sido na casa de 5% há poucas décadas. O roubo está caindo, mas como a represa da Cantareira, em São Paulo, está a desnudar o volume barrento.
            Boa parte sempre foi gasta com os partidos que se alugam por dinheiro vivo, e votos que são comprados no Congresso há décadas. E são os grandes partidos que os brasileiros reconduzem desde sempre.
            Cada um de nós tem um dedão na lama. Afinal, quem de nós não aceitou um pagamento sem recibo para médico, deu uma cervejinha para um guarda ou passou escritura de casa por um valor menor?
            Deixemos de cinismo. O antídoto contra esse veneno sistêmico é homeopático. Deixemos instalar o processo de cura, que é do país, e não de um partido.
            O lodo desse veneno pode ser diluído, sim, com muita determinação e serenidade, e sem arroubos de vergonha ou repugnância cínica. Não sejamos o volume morto, não permitamos que o barro triunfe novamente. Ninguém precisa ser alertado, cada um de nós sabe o que precisa fazer em vez de resmungar.
Ricardo Semler, 55, empresário, é sócio da Semco Partners e professor de MBA no MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA).
           
           
           
           

            

sexta-feira, 18 de março de 2016

ESTAÇÃO RODOVIÁRIA, ABANDONO.



            O prédio onde funciona a Estação Rodoviária de São Gabriel, para que todos saibam, é de propriedade do Município e a ele cabe a responsabilidade da recuperação de eventuais estragos provocados pelas forças da natureza e, creio, pela sua manutenção. O abandono a que me refiro não diz respeito ao concessionário da exploração dos serviços, pois o mesmo investiu aproximadamente R$ 130.000,00 (cento e trinta mil reais) para oferecer melhores comodidades aos seus usuários.
            Foi construído na administração do engenheiro, Alfredo Bento Pereira Filho, 1969-1972, uma obra de grande alcance social que por si só engrandece a cidade e eterniza um dos últimos Prefeitos, senão o último, que efetivamente fez uma gestão voltada totalmente para os interesses da sociedade.
            Sua construção e sua perfeita localização atestam a capacidade do seu idealizador, após mais de quarenta (40) anos de funcionamento, atende a demanda satisfatoriamente e sem qualquer ampliação.
            Segundo me foi informado há mais de um (1) ano o prédio foi atingido por fortes ventos que danificaram parte do seu telhado. É a imprevisibilidade da natureza.
            O que mais surpreende é o descaso da administração municipal quanto à execução dos reparos exigidos, pois decorrido esse lapso de tempo e tudo continua igual, causando péssima impressão aos usuários da mesma e a quem por ali transita.
            Não surpreende este jornalista tamanho relaxamento, afinal de contas a infra-estrutura da Avenida Tito Prates desafia a capacidade ou a incapacidade dos gestores do Município por mais de cento e cinquenta (150) anos.
            O debochado estacionamento particular na Rua João Manoel, na frente do 6º. BE, constrange e ridiculariza toda uma população.
            Não basta vestir verde e amarelo; é preciso sentir e cultivar o verde e amarelo; não basta gritar quando a TV manda gritar, é preciso participar no dia a dia na procura de soluções para os problemas de nossa coletividade.
            Senhor Prefeito, sei que é difícil administrar e mais difícil ainda é ter o controle de tudo quanto acontece no Município, mas essa inércia na solução de pequenos problemas como o que atinge a nossa Estação Rodoviária depõe contra o Senhor e toda sua equipe de colaboradores.
            Senhor Prefeito, sei que é impossível existir um grande Gestor sem uma comunidade participativa e responsável, mas se essa comunidade não chega até o Prefeito, não seria interessante o Prefeito chegar até a comunidade?
            É mais um Prefeito que passa e infelizmente são os mesmos problemas que ficam. Triste.
            
           

           

            

sexta-feira, 11 de março de 2016

REEDIÇÃO DE 1964?


            Para quem viveu, e tem memória, os acontecimentos que culminaram com o movimento de 1º de abril de 1964, antecipado para 31 de março porque aquele é o dia dedicado aos bobos, não pode, de sã consciência, negar a semelhança com a situação que vive o Brasil nos dias de hoje.
            Um governo de esquerda atrapalhado, boicotado pelo Congresso Nacional, amaldiçoado pela grande imprensa, mas com grande apoio popular e uma direita, oposição, sem nomes ou lideranças de expressão nacional capaz de se impor perante a nação dentro das regras tênues que sustentam nossa democracia.
            Paira no ar uma tensão e uma grande articulação de novo golpe, pois a direita ante a possibilidade de mais quatro (4) anos longe do poder central usa de todos os meios na tentativa de desestabilizar a esquerda e levá-la ao total descrédito perante a opinião pública. Conseguirá ou não?
            1964: João Goulart e suas reformas de base.
            2016: Dilma Roussef e sua falta de sensibilidade política para lidar com um Congresso Nacional cujos componentes estão mais para si do que para o povo.
            As forças concorrentes são iguais, nenhuma tem credibilidade suficiente para se apresentar como solução, pois quando administraram o País foram tão corruptas quanto as atuais. A única diferença que se nota é que existe uma investigação permanente e rigorosa contra O PT e seus quadros por parte da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário como um todo, enquanto é notória a omissão quando a denúncia e indícios de crime atingem lideranças de outros partidos.
            Não é o caso de absolver ou condenar este ou aquele e muito menos ter a pretensão de ensinar a Polícia Federal a agir assim ou assado, pois é um órgão que tem as informações necessárias para fazer investigações sobre todo e qualquer cidadão. Ela é uma instituição acima de qualquer suspeita, mas seus componentes são humanos e, como tal, tem lá suas preferências.
            O momento é extremamente perigoso e tal qual o 1964 já deve existir em marcha uma conspiração, incluindo forças internacionais, com a finalidade de assumir o governo brasileiro sob a tutela dos vigilantes Estados Unidos da América, os maiores intervencionistas do universo.
            Os brasileiros precisam aprender a resolver seus conflitos internos sem interferência deste ou daquele país, pois a interferência externa além de limitar nossa independência é um vetor às liberdades individuais de todos os cidadãos.
            O clima é este sob minha óptica, livre e independente, pois não tenho compromisso com ninguém, exceto com a verdade, mesmo que isso incomode muita gente.
            Depois de alguns insensatos semearem tanto ódio, não é de desprezar um conflito de consequências trágicas e imprevisíveis para o Brasil.
            

             

sexta-feira, 4 de março de 2016

AS EMPREITEIRAS E A INTIMIDADE COM O PODER



            Para os cínicos e para os que discutem a vida nacional com parcialidade, atribuindo tudo que existe de ruim no Brasil às administrações do PT, com Luiz Inácio ontem e hoje com a Dilma Roussef, é imperioso esclarecer que o crescimento dessas Empreiteiras, que hoje estão na mira de profundas investigações sob a responsabilidade da Polícia Federal, começou na administração do Presidente Costa e Silva pelo Decreto 64.345, de 10 de abril de 1969, que blindou as portas para empresas estrangeiras em obras de infra-estrutura no Brasil.          
            A Odebrecht, até o final dos anos 60, era uma média empresa baiana. Aproximou-se dos militares e construiu a sede da Petrobrás (!?) em 1971, o Aeroporto do Galeão e a Usina Nuclear de Angra.
            Prosperaram assim muitas das Empreiteiras, entre as quais, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior e OAS.
            A associação íntima entre o público e o privado na época da ditadura se consolidou com a nomeação de militares em cargos de direção nas empresas. Oficiais superiores assumiam Diretorias e Conselhos de grandes Corporações.
            A Ditadura das Empreiteiras acabou em 1991, com o Presidente Fernando Collor de Mello, já muito tarde para coibir a influência dessas empreiteiras na vida política da nação. Lastimavelmente elas já estavam suficientemente fortes para ter um papel decisivo nos destinos do Brasil. A imprensa censurada
            Não se quer com esta matéria justificar qualquer prática ilegal ou imoral que esteja acontecendo nos dias de hoje nas administrações comandadas por estes ou aqueles Partidos Políticos, pois as administrações se sucedem e se alternam justamente para as posteriores corrigirem os erros das anteriores e não para repeti-los ou aumentá-los.
            Existe uma evidente má vontade com a atual administração federal por parte daqueles que afirmam que a ditadura das empreiteiras começou com a ascensão do PT ao poder, pois quem é responsável e bem intencionado sabe que cada grupo que ascende ao poder central tem o seu contingente de áulicos (pertencentes à corte, cortesãos, palacianos). Eles estão presentes não só nas administrações federais, mas também nas estaduais e municipais. São os ditos íntimos.
            Observem São Gabriel e verão que os áulicos da administração “A” são uns; da administração “B” são outros; da administração “C” são diferentes das outras duas (2). Mas prestem atenção, caso contrário não saberão diferenciá-los.
            Participem mais da nossa querida e maltratada São Gabriel e um dia vocês saberão o que sei.