O texto a seguir foi extraído do livro O PODER DAS IDÉIAS – Carlos Lacerda – publicado em 1963. “Antes, pois, de entrar na enumeração de providências e reformas que constituem, em linhas gerais, o processo de Reforma Democrática do Brasil devo singelamente afirmar que faço este esforço sem temores e sem ambições. Faço-o porquê hoje, no governo, vejo confirmado o que denunciei quando estava na oposição. O que vi por dentro era ainda pior do que, de fora, parecia. O Brasil tornou-se propriedade de uma casta que hoje se disfarça de socialisteira como ontem de fascista, mas na realidade é uma casta de incapazes e desonestos profissionais da demagogia, a patronal e a operária, a falar de reformas que não faz porque não quer e porque, se quisesse, não saberia fazer honestamente.
Faço-o sem ressentimentos e sem recriminações. Dou o nome às coisas, costumo chamar pelo nome os principais responsáveis. Mas, não esqueço que existem outros, como os omissos, os que deixam correr o marfim, os que não procuram mais do que os seus interesses imediatos, sejam estes de ordem pecuniária ou espiritual. Há uma espécie de competição no país: o campeonato da demagogia e da corrupção. Vemos padres demagogos, patrões demagogos, estudantes demagogos, economistas demagogos, generais demagogos, colunistas demagogos. Os mais modestos demagogos são, agora, exatamente os que tinham certo direito de o ser, os políticos, os parlamentares. Há uma grande responsabilidade de órgãos de informação e orientação que informam mal e orientam segundo conveniências pessoais, momentâneas, subalternas – com as exceções de costume – e alguns dos quais se PROSTITUEM com a volubilidade de quem julga que nunca terá de prestar contas a ninguém pelo uso que faz dos instrumentos que a Democracia deixa em suas mãos.
Isto posto, diga-se ainda, não tenho a pretensão de concorrer com os ilustrados demagogos da sociologia que, ultimamente, campeiam no Brasil. Jejunos da matéria, justificam “ideologicamente” qualquer absurdo”.
Nada mudou. Quarenta e seis anos passaram e nada mudou. Não evoluímos na ética, na moral, no humanismo, continuamos um bando de egocêntricos sem disciplina e sem rumo definido. De nada adianta a formação acadêmica sem a devida formação moral e cívica. Se paga a estada na universidade, mas ninguém se preocupa com a decência e o saber. O diploma se transformou em instrumento de fazer dinheiro nem que para isso se pratique atos ilícitos. O juramento em ato solene é esquecido ao primeiro brinde pela conquista alcançada. É triste, mas é verdadeiro.
## Mas tem mais: 1929 – Palmeira dos Índios – AL. Prestação de Contas do Prefeito. “Não favoreci ninguém. Devo ter cometido numerosos disparates. Todos os meus erros, porém foram da inteligência que é fraca. Perdi vários amigos, ou indivíduos que possam ter semelhante nome. Não me fizeram falta. Há descontentamento. Se a minha estada na Prefeitura por estes dois anos dependesse de um plebiscito, talvez eu não obtivesse dez votos. Paz e Prosperidade”. As. Graciliano Ramos. Passaram Oitenta (80) anos e nada mudou. Culpa de quem? A resposta está com cada um. Pensem bem e a acharão.
Até enquanto a censura não me cortar, novamente.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
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